Gilberto Gil

Máquina de ritmo


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Máquina de ritmo
Tão prática, tão fácil de ligar
Nada além de um bom botão
Sob a leve pressão do polegar
Poderei legar um dicionário
De compassos pra você
No futuro você vai tocar
Meu samba duro sem querer

Máquina de ritmo
Quem dança nessa dança digital
Será, por exemplo, que meu surdo
Ficará mudo afinal
Pendurado como o dinossauro
No museu do carnaval?
Se você aposta que a resposta é sim
Por Deus, mande um sinal

Máquina de ritmo
Programação de sons sequenciais
Mais de cem milhões de bandas
De escolas de samba virtuais
Virtuais virtuosas vertentes
De variações sem fim
Daí por diante, samba avante
Já sem precisar de mim

Máquina de ritmo
Quem sabe um bom pó de pirlimpimpim
Possa deletar a dor de quem
Deixou de lado o tamborim
Apesar do seu computador
Ter samba bom, samba ruim
Se aperto o botão meu coração
Há de dizer que é samba, sim

Máquina de ritmo
Processo de algo-ritmos padões
Múltiplos binários e ternários
Quaternários sem paixões
Colcheias, semicolcheias
Fusas, semifusas sensações
Nos salões das noites cariocas
Novas tecnoilusões

Máquina de ritmo
Que os pós eternos vão silenciar
Novos anjos do inferno vão pôr
Qualquer coisa em seu lugar
Quem sabe irão lhe trocar
Por um tal surdo-mudo do museu
E os bandos da lua virão se encontrar
Numa praia toda lua cheia
Pra lembrar você e eu
Moreno, Domenico, Kassin
Assim meus filhos, filhos seus
E bandos da lua virão se encontrar
Numa praia toda a lua cheia
Pra lembrar

Só pra lembrar
Só pra cantar
Só pra tocar
Só pra lembrar você e eu.